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PREGAÇÃO E TEOLOGIA BÍBLICA (parte 1)

UMA INTRODUÇÃO À PREGAÇÃO E À TEOLOGIA BÍBLICA – por Thomas R. Schreiner

 Diagnóstico – O Problema com Grande Parte da
Pregação de Hoje


pregaçãoNa associação de igrejas à qual eu pertenço – a
Southern Baptist Convention [Convenção Batista do Sul] -, a batalha pela
inerrância da Escritura pode ter sido ganha. Entretanto, nem nós nem outras
denominações ou igrejas evangélicas que ganharam batalhas semelhantes
deveríamos nos congratular tão rapidamente. Isso porque muitas igrejas
conservadoras podem abraçar a inerrância da Escritura, mas, ainda assim, negar
na prática a suficiência da Palavra de Deus. Nós podemos dizer que a Escritura
é a palavra inerrante de Deus, mas, ainda assim, falhar em proclamá-la
seriamente de nossos púlpitos.

Existe, na verdade, uma fome pela palavra de Deus em
muitas igrejas evangélicas hoje. Algumas séries de sermões fazem, em seus
títulos, referências a programas de TV tais como Gilligan’s Island, Bonanza e
Mary Tyler Moore. A pregação, com frequência, foca em passos para um casamento
bem-sucedido ou em como criar filhos em nossa cultura. Sermões sobre questões
familiares, obviamente, são adequados e necessários, mas dois problemas
frequentemente aparecem. Primeiro, o que as Escrituras de fato ensinam acerca
desses assuntos é frequentemente negligenciado. Quantos sermões sobre casamento
apresentam com fidelidade e urgência o que Paulo de fato ensina sobre os papeis
do homem e da mulher (Ef 5.22-23)? Ou acaso nós estamos constrangidos pelo que
as Escrituras ensinam?

Segundo, e talvez mais sério, tais sermões são quase
sempre pregados no nível horizontal. Eles se tornam o centro da vida semanal da
congregação, e a cosmovisão teológica que permeia a Palavra de Deus e provê o
fundamento para toda a vida é simplesmente ignorada. Nossos pastores se tornam
moralistas como Dear Abby, dando conselhos sobre como viver uma vida feliz
semana após semana.

Muitas congregações não percebem o que está
acontecendo porque a vida moral que tal pregação promove está de acordo, ao
menos em parte, com a Escritura. Ela vai ao encontro das necessidades sentidas
tanto por crentes como por incrédulos.

Pastores também creem que devem preencher seus
sermões com histórias e ilustrações, de modo que as anedotas enfatizem o ensino
moral apresentado. Todo bom pregador usará ilustrações. Todavia, sermões podem
se tornar tão repletos de histórias que acabam desprovidos de qualquer
teologia.

Eu tenho ouvido evangélicos afirmarem com certa
frequência que as igrejas evangélicas estão indo bem em teologia porque as
congregações não estão reclamando daquilo que lhes é ensinado. Tal comentário é
completamente assustador. Nós, como pastores, temos a responsabilidade de proclamar
“todo o desígnio de Deus” (At 20.27). Nós não podemos pôr a nossa confiança em
pesquisas de opinião congregacionais para determinar se nós estamos cumprindo o
nosso chamado. Nós devemos pôr a nossa confiança naquilo que as Escrituras
exigem. Pode ser que uma congregação jamais tenha sido seriamente ensinada na
Palavra de Deus, de modo que os crentes não percebem onde nós estamos falhando
como pastores.

Paulo nos alerta que “entre vós penetrarão lobos
vorazes, que não pouparão o rebanho” (At 20.29). E, em outro lugar, ele afirma
que “haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário,
cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo
coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às
fábulas” (2Tm 4.3-4). Se nós avaliamos nossa pregação pelo que as congregações
desejam, nós podemos estar dando espaço para as heresias. Eu não estou dizendo
que nossas congregações são heréticas, mas apenas que o teste para a fidelidade
é a Palavra de Deus, e não a opinião popular. O chamado dos pastores é para
alimentar o rebanho com a Palavra de Deus, não para agradar as pessoas com o
que elas desejam ouvir.

Muito frequentemente, nossas congregações são
treinadas de modo pobre por aqueles de nós que pregam. Considere o que acontece
quando alimentamos uma congregação com uma dieta constante de pregação
moralista. Eles podem aprender a ser gentis, perdoadores, amorosos, bons
maridos ou esposas (tudo isso é bom, obviamente!). Os seus corações podem ser
aquecidos e até edificados. Mas, à medida que o fundamento teológico é
negligenciado, o lobo da heresia passa a espreitar cada vez mais de perto.
Como? Não que o próprio pastor seja um herege. Ele pode ser completamente
ortodoxo e fiel em sua própria teologia. No entanto, ele presume a teologia em
toda a sua pregação e, assim, torna-se negligente em pregar ao seu povo o
enredo e a teologia da Bíblia. Em uma ou duas gerações, portanto, a congregação
pode, desavisadamente e por ignorância, chamar um pastor mais liberal. Esse
novo pastor também pregará que as pessoas devem ser boas, gentis e amorosas.
Ele também enfatizará a importância de bons casamentos e relacionamentos
dinâmicos. As pessoas nos bancos podem nem sequer discernir a diferença, uma
vez que a teologia parece exatamente igual à do pastor conservador que o
precedeu. E, em um sentido, ela o é, pois o pastor conservador nunca proclamou
ou pregou a sua teologia. O pastor conservador cria na inerrância da Escritura,
mas não em sua suficiência, pois ele deixou de proclamar tudo o que as
Escrituras ensinam à sua congregação.

Nossa ignorância acerca da teologia constantemente
se evidencia. Não saem da minha mente duas ocasiões nos últimos dez anos (uma
em um grande estádio, por um pregador cujo nome não lembro) em que um pregador
convidava as pessoas para virem à frente. O sermão no estádio pretendia ser um
sermão evangelístico, mas eu posso honestamente dizer que o evangelho não foi
pregado de modo algum. Nada foi dito acerca de Cristo crucificado e ressurreto,
ou por que ele foi crucificado e ressurreto. Nada foi dito sobre por que a fé
salva, e não as obras. Milhares vieram à frente e foram, sem dúvida, contados
como salvos. Mas eu coçava minha cabeça e indagava o que de fato estava
acontecendo. Eu orei para que ao menos alguns fossem verdadeiramente
convertidos, talvez porque eles já conhecessem o conteúdo do evangelho de
ouvi-lo em outras ocasiões. O mesmo aconteceu no culto de uma igreja que eu
visitava. O pregador prolongou-se em um inspirado convite para que os ouvintes
“viessem à frente” e “fossem salvos”, mas ele não deu qualquer explicação
acerca do evangelho!

Tal pregação pode encher nossas igrejas de pessoas
não convertidas, as quais são duplamente perigosas: elas foram asseguradas por
seus pastores de que são convertidas e de que nunca podem perder a sua
salvação, mas ainda estão perdidas. Então, daquele dia em diante, essas mesmas
pessoas são exortadas, semana após semana, com o nosso novo evangelho para
esses tempos pós-modernos: sejam legais.

 Descoberta –
O que é Teologia Bíblica

A solução para os problemas com a pregação rasa
descritos na Parte 1 é, na verdade, bastante simples: os pastores precisam a
prender a usar a teologia bíblica em suas pregações. Contudo, tal aprendizado
exige que comecemos com a pergunta: o que é teologia bíblica?

Teologia Bíblica versus Teologia Sistemática

A teologia bíblica, em contraste com a teologia
sistemática, foca no enredo bíblico. A teologia sistemática, embora seja
informada pela teologia bíblica, é atemporal. Don Carson argumenta que a
teologia bíblica
se coloca mais próxima ao texto do que a teologia
sistemática, almeja ser genuinamente sensível no tocante às distinções entre cada
corpus e busca conectar os diversos corpora usando as suas próprias categorias.
Idealmente, portanto, a teologia bíblica permanece como uma espécie de ponte
entre a exegese responsável e a teologia sistemática responsável (ainda que
cada uma dessas inevitavelmente influencia as outras duas). [1]

Em outras palavras, a teologia bíblica se limita
mais intencionalmente à mensagem do texto ou corpus em consideração. Ela
questiona quais temas são mais centrais para os escritores bíblicos em seu
contexto histórico e procura discernir a coerência entre esses temas. A
teologia bíblica foca no enredo da Escritura – o desdobramento do plano de Deus
na história redentiva. Como nós consideraremos mais cuidadosamente na Parte 3,
isso significa que nós deveríamos interpretar e então pregar cada texto no
contexto de sua relação com todo o enredo da Bíblia.

A teologia sistemática, por outro lado, formula
questões ao texto que refletem as questões ou preocupações filosóficas do
momento. Os sistemáticos também podem – com um bom propósito – explorar temas
que estão implícitos nos escritos bíblicos, mas que não recebem atenção
primária no texto bíblico. Além disso, deveria ser evidente que qualquer
teologia sistemática digna desse nome é edificada sobre a teologia bíblica.

A ênfase distinta da teologia bíblica, tal como
Brian Rosner observa, é que ela “permite que o texto bíblico dite a pauta”. [2]
Kevin Vanhoozer articula o papel específico da teologia bíblica ao dizer:
“‘teologia bíblica’ é o nome dado a uma abordagem interpretativa da Bíblia a
qual assume que a Palavra de Deus é textualmente mediada pelas diversas
palavras, literária e historicamente condicionadas, dos seres humanos”. [3] Ou,
“para exprimir a asserção de modo mais positivo, a teologia bíblica está em
harmonia com os interesses dos próprios textos”. [4]

Carson expressa bem a contribuição da teologia
bíblica:

Mas, idealmente, a teologia bíblica, como seu nome
implica, mesmo ao trabalhar indutivamente a partir dos diversos textos da
Bíblia, busca desvendar e articular a unidade de todos os textos bíblicos
tomados juntos, recorrendo primariamente às categorias daqueles próprios
textos. Nesse sentido, ela é teologia bíblica canônica, teologia bíblica
“de-toda-a-Bíblia”. [5]

A teologia bíblica pode limitar-se à teologia de
Gênesis, do Pentateuco, de Mateus, de Romanos ou até mesmo à teologia paulina.
Contudo, a teologia bíblica pode também compreender todo o cânon da Escritura,
no qual o enredo das Escrituras como um todo é integrado. Com muita frequência,
pregadores expositivos limitam-se aos livros de Levítico, Mateus ou Apocalipse,
sem considerar o lugar que eles ocupam no enredo da história redentiva. Eles
isolam uma parte da Escritura da outra, e assim pregam de um modo truncado, ao
invés de anunciarem todo o conselho de Deus. Gerhard Hasel corretamente destaca
que nós precisamos fazer teologia bíblica de um modo “que busca fazer justiça a
todas as dimensões da realidade de que os textos bíblicos testificam”. [6]
Fazer tal teologia não é meramente uma tarefa para professores de seminário; é
a responsabilidade de cada pregador da Palavra!

Pensemos novamente sobre as diferenças entre
teologia bíblica e sistemática, para o que 
Carson traça o caminho. [7] A
teologia sistemática considera a contribuição da teologia histórica e, assim,
se utiliza da obra de Agostinho, Tomás de Aquino, Lutero, Calvino, Edwards e
tantos outros ao formular o ensino da Escritura. A teologia sistemática procura
anunciar a Palavra de Deus diretamente para o nosso tempo e nosso ambiente
cultural. Obviamente, então, qualquer bom pregador deve ser versado na
sistemática para anunciar uma palavra profunda e poderosa aos seus
contemporâneos.

A teologia bíblica é mais indutiva e fundacional.
Carson corretamente afirma que a teologia bíblica é uma “disciplina mediadora”,
ao passo que a teologia sistemática é uma “disciplina culminante”. Nós podemos
afirmar, então, que a teologia bíblica é intermediária, funcionando como uma
ponte entre o estudo histórico e literário da Escritura e a teologia dogmática.

A teologia bíblica, então, trabalha a partir do
texto em seu contexto histórico. Isso não significa afirmar que a teologia
bíblica é um empreendimento puramente neutro ou objetivo. A noção de que nós
podemos separar nitidamente o que o texto significava do que ele significa,
como pretendia Krister Stendahl, é uma quimera. Scobie diz o seguinte acerca da
teologia bíblica:

As suas pressuposições, baseadas em um compromisso
com a fé cristã, incluem a crença de que a Bíblia transmite uma revelação
divina, que a Palavra de Deus na Escritura constitui a norma da fé cristã e da
vida cristã, e que todo o variado material tanto do Antigo como do Novo
Testamentos pode de algum modo ser relacionado ao plano e propósito do único
Deus de toda a Bíblia. Tal teologia bíblica situa-se em algum lugar entre o que
a Bíblia “significava” e o que ela “significa”. [8]

Segue-se, então, que a teologia bíblica não está
confinada apenas ao Novo Testamento ou ao Antigo Testamento, mas que ela
considera ambos os Testamentos juntos como a Palavra de Deus. De fato, a
teologia bíblica trabalha a partir da noção de que o cânon da Escritura
funciona como a sua norma e, assim, ambos os Testamentos são necessários para
desvendar a teologia da Escritura.

Equilibrando o Antigo e o Novo Testamento

Há uma maravilhosa dialética entre o Antigo
Testamento e o Novo Testamento no trabalho da teologia bíblica. O Novo
Testamento representa a culminação da história da redenção iniciada no Antigo
Testamento e, assim, a teologia bíblica é por definição uma teologia narrativa.
Ela captura a história da obra salvadora de Deus ao longo da história. O desenrolar
histórico do que Deus tem feito pode ser descrito como a “história da salvação”
ou a “história redentiva”.

Também é proveitoso considerar as Escrituras a
partir da perspectiva de promessa e cumprimento: o que é prometido no Antigo
Testamento é cumprido no Novo Testamento. Nós precisamos tomar cuidado para não
apagarmos a particularidade histórica da revelação do Antigo Testamento, de
modo a expungir o contexto histórico do qual ele nasceu. Por outro lado, nós
devemos reconhecer o progresso da revelação do Antigo Testamento para o Novo
Testamento. Tal progresso da revelação reconhece a natureza preliminar do
Antigo Testamento e a palavra definitiva que vem no Novo Testamento. Dizer que
o Antigo Testamento é preliminar não elimina o seu papel crucial, pois nós só
podemos entender o Novo Testamento quando também compreendemos o significado do
Antigo Testamento, e vice-versa.

Alguns são hesitantes em abraçar a tipologia, mas
tal abordagem é fundamental para a teologia bíblica, uma vez que é uma categoria
empregada pelos próprios escritores bíblicos. O que é tipologia? Tipologias são
as correspondências divinamente pretendidas entre eventos, pessoas e
instituições do Antigo Testamento e o seu cumprimento em Cristo, no Novo, [9]
como quando Mateus se refere em seu Evangelho ao retorno de Maria, José e Jesus
do Egito usando a linguagem da saída de Israel do Egito (Mt 2.15; Êx 4.22; Os
11.1). Obviamente, não apenas os autores do Novo Testamento observam essas
“correspondências divinamente pretendidas”. Os autores do Antigo Testamento
também o fazem. Por exemplo, tanto Isaías como Oséias predizem um novo êxodo
que será moldado de acordo com o primeiro êxodo. Do mesmo modo, o Antigo
Testamento fala da expectativa de um novo Davi que será ainda maior do que o primeiro
Davi. Nós vemos no próprio Antigo Testamento, portanto, uma gradação na
tipologia, de modo que o cumprimento do tipo é sempre maior do que o próprio
tipo. Jesus não é apenas um novo Davi, mas o maior Davi.

A tipologia reconhece um padrão e um propósito
divinos na história. Deus é o autor final da Escritura – a história é um drama
divino. E Deus conhece o fim desde o começo, de modo que nós, como leitores,
podemos ver prenúncios do cumprimento final no Antigo Testamento.



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1. D. A. Carson,
“Systematic and Biblical Theology,” em New Dictionary of Biblical Theology
(eds. T. Desmond Alexander e Brian S. Rosner; Downers Grove: InterVarsity,
2000), 94.
Uma outra definição é apresentada por Charles H. H.
Scobie: “A teologia bíblica pode ser definida como o estudo ordenado do
entendimento da revelação de Deus contida nas Escrituras canônicas do Antigo e
do Novo Testamentos” (“The Challenge of Biblical Theology,” Tyndale Bulletin 42
[1991]: 36).
2. Brian S.
Rosner, “Biblical Theology,” in New Dictionary of Biblical Theology, 5.
3. Kevin J.
Vanhoozer, “Exegesis and Hermeneutics,” in New Dictionary of Biblical Theology,
56.
4. Ibid., 56.
5. Carson,
“Systematic and Biblical Theology,” 100.
6. Gerhard
Hasel, “Biblical Theology: Then, Now, and Tomorrow,” Horizons of Biblical
Theology 4 (1982): 66.
7. Para a discussão que segue, ver Carson,
“Systematic and Biblical Theology,” 101-02.
8. Scobie, “The
Challenge of Biblical Theology,” 50-51.
9. Para uma introdução mais completa à tipologia,
ver David L. Baker, Two Testaments, One Bible (IVP, 1976), capítulo 7.
Por Thomas R. Schreiner. Extraído do site
www.9marks.org. 
Copyright © 2013 9Marks. 
Usado com Permissão. 
Original:
Preaching and Biblical Theology 101

Tradução: Vinícius Silva Pimentel – Ministério Fiel
© Todos os direitos reservados. 
Website: www.MinisterioFiel.com.br /
www.VoltemosAoEvangelho.com. 
Original: Uma introdução à Pregação e à Teologia
Bíblica (Thomas R. Schreiner)

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