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DOIS MODOS DE VIDA – por Leonardo Dâmaso



TEXTO BASE: Romanos 7
INTRODUÇÃO
O texto de Romanos 7 que vamos
analisar expositivamente “é um dos textos mais complexos e difíceis desta
carta; talvez um dos mais densos de todo o Novo Testamento. Existe uma gama de
opiniões dos estudiosos acerca da sua real interpretação. Todavia não há
unanimidade entre os muitos exegetas quanto ao seu significado primário”.1 Devido as várias linhas de
interpretação que tentam caracterizar Romanos 7, contudo, existe a opinião dominante
que a igreja cristã na sua maioria e também entre os reformados aderiu como a
mais coerente.

No
entanto, eu quero elucidar não a posição majoritária, mas outra posição que é a
mais admissível pela minoria dos estudiosos, e que, em minha opinião, está mais
de acordo e se harmoniza com todo o contexto em geral de Romanos e do tema
proposto, que é a santificação. Senão vejamos os pontos difíceis que se
encontram neste capítulo. 
Não obstante percebemos que estão
inseridos alguns detalhes de vital importância que fazem toda a diferença para
nós compreendermos realmente o que este texto representa. Se fizermos uma leitura desatenta
dos versículos 9-25, podemos entender o oposto do significado real da passagem
e, assim, termos uma visão equivocada de Romanos 7 num todo. O primeiro detalhe
importante que devemos notar é a mudança no tempo verbal.
Anteriormente, no versículo 9
Paulo diz: Outrora sem a lei eu vivia; mas sobrevindo o preceito,
reviveu o pecado, e eu morri.
No versículo 11 ele resslata: Porque o pecado, prevalecendo-se do
mandamento, pelo mesmo mandamento, me enganou
e me matou.
E no versículo 13b o apóstolo conclui
descrevendo que o pecado para revelar-se
como pecado por meio de uma coisa boa
[a lei] (vs.12), causou-me a morte, a fim de que pelo mandamento se mostrasse sobremaneira
maligno.
 
Todavia, vemos que todos estes
versículos estão no aoristo segundo indicativo ativo, exceto o versículo 11,
que está apenas no aoristo indicativo ativo.2 Noutras palavras,
todos estes verbos fazem referência a um tempo passado, isto é, a fatos que já
aconteceram como: Enganou, matou e causou.
O segundo detalhe que encontramos
em Romanos 7 é o uso freqüente dos pronomes pessoais eu e mim nos versículos 7-25. No versículo 7b observamos que Paulo
diz: Mas eu não conheci o pecado senão pela lei, porque eu não conheceria a concupisciência, se a lei não dissesse: Não
cobiçaras.
No versículo 8 ele salienta que O pecado tomando ocasião pelo mandamento despertou em mim toda a concupiscência. No versículo
10 ele continua: E o mandamento que era
para a vida, achei eu que me era para a morte.
E finalmente, o
versículo 11 fala que o pecado tomando
ocasião pelo mandamento, me enganou
e, por ele, me matou.
Desse
modo, todo o restante do capítulo 7 de Romanos, nos versículos 13-14, 17-18,
20- 21, 23-25  está contido o uso destes
pronomes eu e mim.
Apesar desses dois detalhes importantes
que vimos estar presente em  Romanos 7, isso nos remonta a três dúvidas e
a três perguntas distintas sobre o texto analisado:
“(1) Paulo está se referindo a si
mesmo devido aos pronomes (eu e mim) como cristão experimentando batalhas
atuais contra o pecado. (2) Como um antigo fariseu antes da sua conversão a
Cristo, ou (3) referindo-se a pessoas em geral que estão tentando separar-se da
obra do espírito Santo para obter justiça com sua própria força”?3
Se analisarmos atentamente estas
três principais linhas de interpretação e algumas outras, veremos que elas não
condizem com o contexto em geral de Romanos, do que sabemos sobre a vida de
Paulo e o que ele diz acerca da vida cristã em outras de suas cartas.
Contudo, a minha opinião doravante
a Romanos 7 é que, o tema vigente que sobressai é a questão da lei e do pecado.
A vida na carne debaixo da lei, ou seja, de uma pessoa não cristã. Calvino
Chegou a declarar que, se atingirmos uma verdadeira compreensão quanto a essa
epístola, teremos uma porta aberta para todos os tesouros mais profundos das
Escrituras.4
  
EXPLANAÇÃO
  
Paulo, no capítulo 6.1-23 trata
sobre a questão da libertação do pecado através da graça e a santificação pela
fé; a lei e o pecado no capítulo 7.1-25 conforme foi mencionado a guisa de
introdução e a nova vida em Cristo no capítulo 8.1-17.
Agora, vamos analisar Romanos 7
num todo e extrair as verdades indizíveis que o texto nos ensina.
1. DOIS MODOS DE VIDA (7.1-6)
Ao expor a questão da lei, Paulo
vai usar nestes versículos “primeiro um principio (vs.1), segundo uma
ilustração (vs.2-3) e em terceiro nos apresenta uma aplicação (vs.4-6)”5
para esboçar os dois modos de vida. Senão vejamos:
a) A vida sobre o domínio da lei
(vs.1)
O objetivo de Paulo aqui é trazer
a memória dos seus leitores tudo o que eles haviam aprendido a respeito da lei
e suas implicações, haja vista que no capítulo 6.6-23 ele traça um paralelo
entre a escravidão no pecado debaixo do jugo da lei e a libertação e
santificação pela fé mediante a graça.
Paulo está se referindo
necessariamente a lei moral, os 10 mandamentos que “os gentios, bem como os
judeus da igreja em Roma, podiam ser tidos como conhecedores do Antigo
testamento”;6  “Como
conhecedores em geral de toda a lei”7 (vs.1a), e que o domínio da
lei sobre nós é valido somente enquanto formos vivos (vs.1b).  
Em outras palavras, era como se o
apóstolo dissesse: “Meus irmãos, será que
vocês que conhecem a lei ainda não compreendem
(ou “esqueceram” ênfase minha) que, quando uma pessoa morre, a Lei (“não
o pecado” ênfase minha) não tem mais
nenhum poder sobre ela
? (NBV)8 Que a lei tem autoridade
sobre alguém apenas enquanto está viva?
(NVI)9
b) A metáfora do casamento (vs.2-3)
Paulo se utiliza da ilustração do
casamento como um exemplo aos Romanos afim de que eles compreendessem melhor o
que ele acabará de ressaltar no versículo 1.
Aqui vemos descrito que “uma mulher casada é legalmente
unida ao seu marido (pela lei) enquanto ele vive”.10 Mas, se
porventura esta mulher casar-se com outro homem, estando vivo o seu marido,
será considerada adúltera. Contudo, se o marido morrer, ela estará livre para
casar-se novamente, não cometendo, assim, adultério. “A morte rompeu a relação
de casamento e liberou a mulher”.11   
No entanto, a esposa mencionada aqui nunca consegue
agradar o seu marido exigente e implacável, pois ela “é imperfeita, carnal e
rendida ao pecado”.12 Ou seja, cheia de debilidades e “sempre frustra
as expectativas do seu marido”.13 A lei simboliza o marido
perfeccionista que condena a mulher por qualquer falha que porventura venha a
cometer. “A mulher [que somos nós] não pode divorciar-se desse marido. O
contrato é claro: a lei a prende ao marido enquanto ele viver.
Só a morte do marido pode tirar essa mulher desse jugo
conjugal, pois a morte muda não apenas as obrigações da pessoa morta, mas
também as obrigações dos sobreviventes que com ela mantinham algum contrato”.14
     
c) A vida sobre o domínio de Cristo (vs.4)
     
Deus livrou os cristãos da
escravidão do pecado não tirando o pecado de dentro de nós, mas fazendo com que
nós morrêssemos para o pecado na cruz com Cristo (6.6). Portanto, o Senhor nos
livra da lei também da mesma forma, não anulando a lei, “pois ela continua a
governar sobre os homens”15, mas nos tirando do domínio dela assim
como nos tirou do domínio do pecado (6.14). Isso não quer dizer que os cristãos
não precisam mais observar a lei. Antes, eles fomos libertos da condenação da lei, mas não da obrigação da lei.
Via de regra somos livres da lei
e escravos para servir ao Rei dos Reis (1.1). Warren Wiersbe corrobora que estar
morto para a lei não significa levar uma vida sem Lei. Quer dizer apenas que a motivação
e a dinâmica de nossa vida não vêm da Lei, e sim da graça de Deus
por meio de nossa união com Cristo.16
Foi assim que esse casamento com
a lei acabou, por isso não somos mais condenados por ela. Viúvos da lei,
vivemos agora um novo casamento com Cristo Jesus debaixo da maravilhosa graça
de Deus (8.1). Não vivemos sem a lei, mas agora somos capacitados pelo Espírito
a obedecê-la, dando bons frutos que glorifiquem a Deus (Jo 14.21a), demonstrando,
assim, todo o nosso amor em agradar ao novo marido tão rigoroso como o antigo,
mas compassivo e benigno com sua esposa.
d) O contraste entre os dois modos
de vida
(vs.5-6)
           
A expressão vivíamos segundo a carne, no grego, denota “o homem que está no
controle de sua própria vida, e a dirige de modo contrário a vontade de Deus”17,
sendo, assim, inimigo de Deus (8.7). Quando
éramos casados com a lei, isto é, antes de sermos regenerados, estávamos sobre
o controle e domínio do pecado como marionetes em suas mãos (6.16).
Dessa forma, “a perfeição do
nosso primeiro marido realçava ainda mais nossos erros e paixões pecaminosas”.18 Os desejos pecaminosos
internalizados e ativos em nós eram despertados
e estimulados pela lei, como se
estivessem dormindo, levando-nos a ter vontade e fazer tudo aquilo que
desagrada a Deus.
William Barclay acentua que a lei
produz pecado, porque o próprio fato de uma coisa estar proibida pela lei
presta ao pecado certa atração. O fruto proibido tem uma fascinação por si
mesmo; e, portanto, a própria proibição da lei despertava o desejo de pecar.19
Nessa mesma linha de pensamento,
Adolph Pohl salienta que a lei na verdade não produziu o pecado, mas fez
funcionar o pecado existente. A natureza antidivina explodiu, foi flagrada
instantaneamente pela lei e, com essa característica, podia ser submetida a
julgamento.20 Noutras palavras, as nossas
atitudes pecaminosas resultariam em morte física e eterna (6.21-23, 7.5).
     
Parafraseando o versículo 6, Paulo conclui a sua premissa
enfaticamente, dizendo: “Agora [expressão
se referindo à nova vida em Cristo debaixo da graça] (8.1) estamos livres da lei porque já morremos (o velho homem, o eu do
cristão não regenerado) para aquilo que
nos mantinha prisioneiros
.  
Por isso somos livres para servir a Deus não da maneira antiga,
obedecendo à lei
(aquele velho código da lei escrita e externa que produz
hostilidade e condenação) mas da maneira
nova, (livre das exigências da lei) obedecendo ao Espírito de Deus”
(servindo
a Cristo sobre a perspectiva de vida produzida pelo Espírito, caracterizada por
um novo desejo de manter a lei de Deus e a capacidade para cumpri-la). (NTLH) 21  
David H. Stern sintetiza que “fomos libertados: (1) de
nossa própria propensão para recorrer a uma estrutura de legalismo, (2) de
sentimentos de culpa irremediáveis e (3) de penalidades e maldades da lei por
desobedecermos a ela. Três formas pelas quais a lei antes nos dominava”.22
2. A RELAÇÃO ENTRE A LEI E O
PECADO (7.7-13).
Lutero disse que a função básica
da lei é nos conduzir a Cristo, ao passo que Calvino apegava-se ao que se
tornou muito conhecido como sua tríplice função da lei. A lei tem essa tríplice
função: 1) revelar o caráter santo de Deus, 2) Repreender ou colocar limite ao
pecado da sociedade e 3) revelar e despertar o pecado em nós (3.20).23
Nesta seção, Paulo vai refutar e
expandir o assunto que outrora ele começou a tratar acerca dos dois modos de
vida, a vida debaixo da lei e a vida debaixo da graça. Indubitavelmente, o apóstolo aqui
vai mais além, enfatizando que a lei é boa e que ela não é culpada pelos nossos
pecados, mas a natureza irregenerada do homem morto espiritualmente é que o faz
viver na prática do pecado (Ef 2.1-3).
a) O propósito da lei é revelar o
pecado
(vs.7)
Depois de havermos morrido para o
pecado e para a lei, será que estou dizendo que a lei é pecado? Paulo começa
seu argumento com esta pergunta. Daí ele responde de modo insofismável: De modo nenhum, “é claro que não”! (NTLH) 24 “A lei não é responsável pelo pecado e
pela morte”25, antes ela tem como função revelar o pecado existente
em nós (3.20).
Hernandes Dias Lopes diz que a
lei é como um raio x que diagnostica os tumores infectos da nossa alma. A lei é
um espelho que revela o ser interior e mostra como somos imundos”.26
Ao caracterizar a lei pelo décimo
mandamento, Paulo nos remete para o monte Sinai (Êx 20.17), onde a lei fora
dada aos judeus sem lei que haviam acabado de sair do Egito rumo a Canaã, a
terra prometida. A partir daí, a nação de Israel
que não conhecia o pecado toma conhecimento dele através dos dez mandamentos. É
importante destacar que o pecado não se forma por meio da lei, mas o que surge
pela lei é o reconhecimento dele.27  
b) O propósito da lei é despertar o
pecado
(vs.8)
A expressão tomando ocasião, no grego (aphorme), significa oportunidade e era usada com referência a uma base de operações
militares, o ponto de partida ou base de operações para uma expedição.28
Ou seja, o pecado encontra no mandamento uma porta aberta, uma oportunidade
para entrar e suscitar em nós toda sorte de desejos (vs.8a).
Conforme já foi mencionado anteriormente, no (vs.5),
a lei não somente expõe o pecado, mas também tem como objetivo despertar e estimular todo o tipo de
“desejo cobiçoso”, (NVI) 29
“desejo proibido” (NBV).30
Para que o impulso em fazer algo proibido seja ativado em nós, é necessário que
exista aquilo que nos proíba de fazê-lo. Portanto, as proibições da lei, em
outras palavras, os nãos é que são o ponto de partida a fim de despertar o
desejo de pecar. Se não existe a proibição ou o mandamento para não pecar não
haveria a possibilidade de pecado.     
Assim, vale a pena enfatizar que o
uso do pronome eu aqui e no restante
do capítulo é uma figura de linguagem, é retórico, hipotético. Paulo usa esse
termo não para relatar uma experiência individual, mas como exemplo para mostrar
o povo de Israel bem como judeu que era.
Em contrapartida, a história do
povo de Israel é retratada aqui. Uma trajetória conturbada de 40 anos no
deserto marcada pela desobediência, pelas murmurações, pela ingratidão a Deus e
pela constante vontade de voltar para o Egito. Eles quebraram todos os mandamentos
já conscientes da lei que lhes fora dada.
Mesmo antes do povo de Israel
receber a lei por intermédio de Moisés, eles tinham pecado, porém, o pecado
contra a lei da consciência (2.14-15) e contra a revelação natural (1.20,21).
Mas ele não era “levado em conta” sem lei (5.13; 2.12). “Sem a lei o pecado não
é caracterizado juridicamente, somente pelo encontro com a lei o pecado se
torna passível de ação judicial (5.13)”.33
“Os israelitas não transgrediram
mandamentos objetivos como Adão transgrediu no Éden, comendo do fruto que Deus
o proibira de comer, mas pecaram deixando de agir de acordo com a luz
recebida”.34 “Foi somente na esfera da lei que a culpa podia ser
desmascarada e reputada como inimizade contra Deus, e, assim, tornar-se algo
consciente”.35 Mas agora, depois que veio a lei, começa o conflito
entre ela e o pecado.  
c) O propósito da lei é condenar o
pecado
(vs.9-13)
No texto em tela, Paulo começa
com uma afirmação dizendo que antes,
em algum tempo no passado, ele vivia
sem o conhecimento da lei (vs.9a). A palavra ele que Paulo usa como se estivesse referindo-se a si mesmo,
descrevendo uma experiência passada em que viveu sem o conhecimento da lei, não
encontra respaldo no contexto de Romanos e das outras cartas Paulinas.
Mediante o que sabemos de Paulo pelo
Novo Testamento, principalmente em Filipenses 3.4-10, é descrito que ele era circuncidado
ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de benjamim, hebreu de hebreus;
quanto à lei, fariseu (vs.5). Quanto ao zelo, perseguidor da igreja, quanto à
justiça que há na lei, irrepreensível (vs.6).
Celeremente, Paulo nunca viveu em
tempo algum sem a lei, desde muito cedo ele já fora instruído no judaísmo aos pés
de Gamaliel, perseguiu os Cristãos em nome de Deus e do zelo pela religião,
pois achava estar fazendo um favor a Deus em assolar a igreja, considerada por
ele uma seita herege (At 22.3-5,
26.9-12, Gl 1.13).  
Por isso, de acordo com o
contexto anterior nos versículos 7-8, o apóstolo aqui também está fazendo alusão
à experiência nacional de Israel no Egito antes de receber a lei no monte Sinai
(vs.9a). Após receberem a lei (vs.9b), o pecado já existente (vs.9c, 5.14)
despertou, foi estimulado (vs.9d) e houve a consciência da perda da comunhão
com Deus por causa do pecado.  
Daí, os israelitas “enganados
pelo pecado que se aproveitou da lei (vs.11), cujo objetivo era produzir vida”36
logo descobriram que era para a morte e condenação (vs.10).  John Stott ressalta que: a lei é boa (vs.12),
mas também é fraca. Em si ela é santa; contudo é incapaz de nos tornar santos.37
 
A lei é perfeita, porém não
santifica. Ela não tem o poder de operar em nós aquilo que ela exige a
obediência total, mas a lei tem como objetivo caracterizar o pecado de Adão que
se tornou a herança de todos nós e deixar claro o que o pecado representa e o
castigo para ele (vs.13).
3. O CONFLITO ENTRE A LEI E O
PECADO (vs.14-25)
Depois de fomentar a relação
entre a lei e o pecado, Paulo agora vai tanger o tenso conflito que existe
entre a lei e o pecado. O apóstolo vai enfatizar a tentativa do judeu piedoso
não cristão que vive debaixo da lei, e que tenta obedecê-la a parte da obra
regeneradora do Espírito e concluir com a nova vida em Cristo Jesus (8.1).
Podemos notar que essa descrição
é feita por alguém que agora é cristão, mas olha para trás, no sentido de
contar uma experiência que viveu no passado antes de se converter, no caso em
pauta, o conflito entre tentar obedecer a lei na carne. Por isso vemos agora a
mudança do tempo verbal no passado (vs.8-13) para o presente (vs.14-25).
a) A lei e a natureza irregenerada
(vs.14, 18, 22-23)
Percebemos mais uma vez que antes de expor o conflito
entre a lei e a natureza irregenerada, Paulo vai mostrar outro detalhe sobre a
lei – que ela é espiritual (vs.14a). Por espiritual no sentido de que “trata do
ser interior, da parte espiritual do ser humano bem como de suas ações
exteriores.
A Lei dada em Êxodo era referente às ações exteriores. Mas,
ao repetir a Lei em Deuteronômio, Moisés sintetizou a qualidade interior dela
com respeito ao coração do homem (Dt 10.12-13). A repetição do termo amor em Deuterenômio também mostra que a
interpretação mais profunda da lei diz respeito ao ser interior (Dt 30.6)”.38
(vs.22). 
Não obstante Paulo
diz agora [no tempo presente] que é carnal,
vendido à escravidão do pecado (vs.14b).
O apóstolo está querendo dizer que a dificuldade em obedecer não está na lei,
mas, sim, nele mesmo, pois o estado em que se encontra como escravo do pecado,
preso a sua vontade pecaminosa o impossibilita de obter êxito.
       
Delineando esta condição de Paulo
evidenciada aqui e ao analisar o contexto anterior – o capítulo 6 e o posterior
– capítulo 8 de Romanos 7, vemos que esta passagem não é autobiográfica. O versículo
14b ressalta a vida na carne (sarkinos) de uma pessoa irregenerada,
necessariamente do judeu não convertido a Cristo que vive debaixo da lei.
Se fosse Paulo que estivesse
nesta situação, ele estaria em total contradição com o que ele próprio escreveu
no capítulo 8.4b, 6, 7, 9a. Seria o mesmo que ele dizer assim: “Irmãos, eu não sou cristão, sou um
irregenerado, pois ainda vivo na carne, no pecado”
!
Também vemos no versículo 18 onde
ele diz que na sua natureza humana pecaminosa não habita bem nenhum. Por um
lado é verdade, mas a idéia de que não há nada de bom habitando no cristão
entra em contraste com a questão da regeneração e da nova vida em Cristo (veja 8.15).
No versículo 23 Paulo diz que é
prisioneiro da lei do pecado, contradizendo novamente, tudo o que ele disse
anteriormente no capítulo 6.6,11a, 18, 22, que pela morte de Cristo fomos
libertos da lei e da escravidão do pecado. Estas, portanto, são algumas das
dificuldades contidas no texto, mas se analisarmos minuciosamente cada
versículo entenderemos o seu real significado.
b) Uma vida de Derrota
(vs.15-25b)  
       
O quadro pintado por Paulo aqui
nestes versículos não é uma experiência de vida cristã volúvel ecoada por altos
e baixos, onde às vezes se faz o bem e, às vezes, se faz o mal. Um dia está
firme e santo, e, no outro, está fraco e em pecado. Como alguns acham base
através dessa passagem, o apóstolo também não está se referindo aqui ao crente
carnal (1Cor 3.1-4).  
O que temos pintado aqui é um
quadro de derrota constante. Esta pessoa está em crise porque nunca faz o bem.
Aqui é descrito um ciclo continuo de derrota onde se tem o conhecimento do bem,
o querer fazê-lo, porém, sem sucesso. Por mais que a pessoa tente, haverá
sempre a frustração por não conseguir obedecer à lei.
Via de regra o judeu que tinha
recebido a lei sabia o que era certo e errado, mesmo não se vendo assim neste
conflito pelo o orgulho, mas reconhecia e aprovava a lei de Deus (vs.22). Do
ponto de vista de Paulo em Romanos, é impossível o homem morto espiritualmente
obedecer à lei.
No entanto, se esta for uma
experiência de vida cristã, existe algo errado. Talvez o cristão que viva isso
não tenha nascido do Espírito ainda. A vida cristã normal está baseada nos capítulos
6 e 8.6,7, 8, 10,15 pela libertação do pecado, o trilhar da santificação pela
fé e a vitória sobre o pecado.
Por outro lado, não estou dizendo
que a vida cristã é caracterizada pelo perfeccionismo e vitória constante sobre
o pecado, e que não exista conflitos. Pelo contrário, todo cristão passa por
inúmeras dificuldades devido às fraquezas e limitações, mas não por um conflito
deste nível aqui descrito eivado em completa derrota.
c) A nova vida em Cristo (vs.25a e 8.1)
Em virtude da frustração de não
conseguir obedecer a todos os preceitos que a lei ordena, o judeu reconhece a
sua miserabilidade diante de Deus e a sua incapacidade de cumpri-la com esta
enfática declaração no versículo 24. Assim, era como se Paulo sussurrasse no
ouvido do Judeu no versículo 25a que é antecipação do capítulo 8.1, mostrando a
saída da prisão do pecado e da lei, que é Cristo Jesus, o nosso Senhor.   
CONCLUSÃO
Quais as lições que Romanos 7 nos
ensina?
Devido ao pecado de Adão, a
humanidade em geral recebeu esta herança como consequência – a perda da
comunhão com Deus. Todos pecaram e morreram com Adão. Estávamos lá sendo
representados por ele (5.19), e, portanto, carecemos da glória de Deus a fim de
nos libertar da lei e do domínio do pecado (3.23).

Pela lei estamos condenados à
morte e não podemos retornar ao caminho de Deus, a não ser que Ele, o Pai, nos
escolha levar até Cristo Jesus (Jo 5.44) e opere em nós tanto o querer bem como
o efetuar (Fp 2.13).  Somente Jesus pode transformar
por completo o nosso ser, nos regenerando, perdoando, justificando,
santificando e nos tornando filhos do Deus altíssimo por Cristo Jesus o nosso
Senhor. 

NOTAS:
1. Hernandes Dias Lopes. Comentário Expositivo de Romanos pág 256.
2. Novo Testamento Interlinear. Grego/Português.
3. Wayne Grudem. Comentário de Romanos na bíblia de Estudo
Plenitude.
4. João Calvino. Epístola a los Romanos, pág 8.
5. John Stott. Romanos, pág
56.
6. John Murray. Romanos, pág 267.
7. Fritz Rienecker e Cleon
Rogers.
Chave Línguistica do Novo
testamento Grego, pág 266- 267.
8.
NBV.
9.
NVI.
10.
A mensagem. Bíblia em linguagem contemporânea.
11.
Warren Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo, pág 697.
12.
Hernandes Dias Lopes. Comentário Expositivo de Romanos pág 260.
13.
Ibid.
14.
Ibid.
15.
Warren Wiersbe. Comentário bíblico Expositivo, pág 697.
16.
Ibid.
17.
Fritz Rienecker e Cleon Rogers. Chave Línguistica do Novo Testamento Grego, pág
266- 267.
18.
Hernandes Dias Lopes. Comentário Expositivo de Romanos pág 262.
19.
William Barclay, Romanos, pág 103.
20.
Adolph Pohl. Comentário Esperança de Romanos, pág 68.
21.
NTLH.
22.
David H. Stern. Comentário Bíblico Judaico, pág 411.
23.
R.C. Sproul. Romanos, pág 195-196.
24.
NTLH.
25.
Comentário Bbíblico Africano, pág 1396.
26.
Hernandes Dias Lopes. Comentário Expositivo de Romanos pág 264.
27.
Adolph Pohl. Comentário Esperança de Romanos, pág 69.
28.
 Fritz Rienecker e Cleon Rogers. Chave
Linguística do Novo Testamento grego, pág 267.
29.
NVI.
30.
NBV.
31.
Novo Testamento interlinear. Grego/português.
32.
NTLH.
33.
Adolph Pohl. Comentário Esperança de Romanos, pág 70.
34.
Hernandes Dias Lopes. Comentário Expositivo de Romanos pág 227.
35.
Adolph Pohl. Comentário Esperança de Romanos, pág 56.
36.
Comentário bíblico Africano, pág 1396.
37.
John Stott. Romanos, pág 228.
38.
Warren Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo, pág 699.

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