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UMA GRANDE MISÉRIA DIANTE DO GRANDE DEUS – MC 1:40-45



Esse texto é um dos mais tocantes do Novo Testamento. Mais do que um fato, é um símbolo, um emblema da nossa vida. Ele nos mostra dois pólos distintos:


Em primeiro lugar, a
miséria extrema a que o homem pode chegar.
Esse texto pinta com cores vivas
a dolorosa situação a que um ser humano pode chegar. Certo homem na Galiléia
começou a ter sintomas estranhos no seu corpo. Um dia, verificou que sua pele
estava ficando escamosa e cheia de manchas. Sua esposa, assustada, recomendou-o
a ir ao sacerdote. Ele foi, e recebeu o sombrio diagnóstico: “Você está com
lepra, está impuro, imundo”. Aquele homem voltou cabisbaixo, vestiu-se de trapo
e sem poder abraçar sua família, retirou-se para uma caverna ou uma colônia de leprosos,
fora da cidade.

Os anos se passaram, sua
doença agravou-se. Agora, desenganado, coberto de lepra, corpo deformado,
aguarda num total ostracismo social a chegada da morte. Até que um dia fica
sabendo que Jesus de Nazaré estava passando pela Galiléia. A esperança
reacendeu no seu coração. Ele rompeu o bloqueio da aldeia, esgueirou-se pelas
ruas e prostrou-se aos pés de Jesus.

Em segundo lugar, a
compaixão infinita do Filho de Deus.
A atitude natural de qualquer judeu
seria escorraçar aquele leproso e atirar pedras nele. O leproso estava
infringindo a lei, pois era impuro e não podia sair do seu isolamento. Mas
Jesus sente compaixão por aquele homem chagado, toca-o, cura-o e devolve-o à
sua família, restaurando-lhe a dignidade da vida.

Esse incidente é um exemplo
solene da sombria condição humana afetada pela doença mortal do pecado. Também
é um retrato da compaixão e do poder absoluto de Jesus, para curar e salvar.

Uma grande necessidade
Enquanto Jesus percorria as
cidades da Galiléia pregando o evangelho, apareceu um homem leproso. O
evangelista Lucas, que era médico, usando uma linguagem mais precisa, diz que
ele estava coberto de lepra (Lc 5.12). O mal já estava em estado avançado.
A palavra lepra vem de lepros
do verbo lepein que significa descascar. Um leproso é alguém com a pele
descascando. Naquela época, a lepra abrangia alergias de pele em geral, das
quais os rabinos tinham relacionado 72, tanto de curáveis quanto incuráveis.190
A palavra grega para lepra era usada para uma variedade de doenças similares;
algumas delas eram contagiosas, degenerativas e mortais.191 A lepra
descrita no texto em apreço era deste tipo: uma doença insidiosa, repulsiva,
lenta, progressiva, grave e incurável. Ela transformava o enfermo numa carcaça
repulsiva. O leproso era considerado um morto-vivo. A cura da lepra era
considerada como uma ressurreição.192 Só Deus podia curar um leproso (2Rs
5.7).
A lepra era a pior enfermidade
do mundo: a mais temida, a mais sofrida, a de conseqüências mais graves. O
filme Ben-Hur retrata esse drama, quando Messala envia para a prisão a mãe e a
irmã de Ben-Hur e elas ficam leprosas e são levadas para uma colônia de
leprosos já com os corpos desfigurados pela doença contagiosa.
A lepra era um símbolo da ira
de Deus contra o pecado. Os rabinos consideravam a lepra um castigo de Deus.193
Ela foi infligida por Deus para punir rebelião (Miriã), mentira (Geazi) e
orgulho (Uzias).
A lepra era um símbolo do
pecado194
e como tal, possui várias características:
Em primeiro lugar, a lepra
é mais profunda que a pele
(Lv 13.3). A lepra não era apenas uma doença
dermatológica. Ela não ataca meramente a pele, mas, também, o sangue, a carne e
os ossos, até o paciente começar a perder as extremidades do corpo.195
Semelhantemente, o pecado não é algo superficial. Ele procede do coração e
contamina todo o corpo. O homem está em estado de depravação total, ou seja,
todos os seus sentidos e faculdades foram afetados pelo pecado. O pecado atinge
a mente, o coração e a vontade.196 Ele atinge os pensamentos, as
palavras, os desejos, a consciência e a alma.

Em segundo lugar, a lepra separa. Larry
Richards diz que o impacto social da lepra era ainda maior do que seus
problemas físicos. Além do sofrimento infligido por tal doença, a pessoa
deveria ficar isolada da comunidade.197 A lepra afligia
física e moralmente, pois os leprosos tinham de enfrentar a separação de

seus queridos e o isolamento
da sociedade.198 O leproso precisava ser isolado, separado da
família e da comunidade. Ele não poderia freqüentar o templo nem a sinagoga.
Precisava viver numa caverna ou numa colônia de leprosos. Todo contato humano
era proibido.
A lei de Moisés proibia
terminantemente a um leproso se aproximar de qualquer pessoa e quando alguém se
aproximava, precisava gritar: Imundo! Imundo!, a fim de que nenhuma pessoa dele
se aproximasse. A lei de Moisés diz: “As vestes do leproso, em quem está a
praga, serão rasgadas, e os seus cabelos serão desgrenhados; cobrirá o bigode e
clamará: Imundo, Imundo!” (Lv 13.45).
Assim é o pecado. Ele separa o
homem de Deus (Is 59.2), do próximo (ódio, mágoas e ressentimentos) e de si
mesmo (complexos, culpa e achatada auto-estima).
Em terceiro lugar, a lepra
insensibiliza.
William Barclay fala de dois tipos de lepra que havia no
período do Novo Testamento: Primeiro, a lepra nodular ou tubercular.
Este tipo de lepra começa com dores nas juntas e com nódulos avermelhados e
escuros na pele. A pele torna-se rugosa e as cartilagens começam a necrosar. Os
pés e as mãos ficam ulcerados e o corpo deformado. Segundo, a lepra
anestésica.
Esse tipo de lepra afetava as extremidades nervosas. A área
afetada perdia completamente a sensibilidade. O paciente só descobria que
estava doente quando sofria uma queimadura e não sentia dores. Com o avanço da
doença, as cartilagens iam sendo necrosadas e o paciente perdia os dedos das
mãos e dos pés.199 A lepra atinge as células nervosas e deixa o doente
insensível.

De forma semelhante, o pecado anestesia e
calcifica o coração, cauteriza a consciência e mortifica a alma. Como a lepra,
o pecado é progressivo. Um abismo chama outro abismo. É como um sapo num
caldeirão de água. Levado ao 
fogo, o sapo vai se adaptando
à temperatura da água e acaba morrendo queimado.

Em quarto lugar, a lepra
deixa marcas.
A lepra degenera, deforma, deixa terríveis marcas e
cicatrizes. Quando a lepra atinge seu último estágio, o doente começa a perder
os dedos, o nariz, os lábios, as orelhas. A lepra atinge os olhos, os ouvidos e
os sentidos.
O pecado também deixa marcas
no corpo (doenças), na alma (culpa, medo), na família (divórcio, violência).
David Wilkerson, trabalhando com jovens drogados na cidade de Nova Iorque, fala
de jovens que sob o efeito avassalador das drogas, arrancavam as unhas e os
próprios olhos, mutilando-se.
Em quinto lugar, a lepra
contamina.
A lepra é contagiosa, ela se espalha. O leproso precisava ser
isolado, do contrário ele transmitiria a doença para outras pessoas.
O pecado também é contagioso.
Um pouco de fermento leveda toda a massa (1Co 5.6). Uma maçã podre num cesto
apodrece as outras. Davi nos ensina a não andarmos no conselho dos ímpios, a
não nos determos no caminho dos pecadores nem nos assentarmos na roda dos
escarnecedores (Sl 1.1). O pecado é como o Rio Amazonas; até uma criança pode
brincar na cabeceira desse rio. Contudo, na medida em que avança para o mar,
novos afluentes vão se juntando a ele e então, transforma-se no maior rio do
mundo em volume de água. Nenhum nadador, por mais audacioso, se aventuraria a
enfrentá-lo. O pecado é como uma jibóia que o domador domesticou. Um dia essa
serpente venenosa vai esmagar os seus ossos. A Bíblia diz que quem zomba do
pecado é louco. O pecador será um dia apanhado pelas próprias cordas do seu
pecado.
Em sexto lugar, a lepra
deixa a pessoa impura.
A lepra era uma doença física e social. Ela deixava
o doente impuro. O leproso era banido do lar, da cidade, do templo, da
sinagoga, do culto. Ele deveria carregar um sino no pescoço e gritar sempre que
alguém se aproximasse: Imundo! Imundo!200 Os dez leprosos
curados por Jesus gritaram de longe, pedindo ajuda (Lc 17.13). Eles não ousaram
se aproximar dele.
O pecado também deixa o homem
impuro. A nossa justiça aos olhos de Deus não passa de trapos de imundícia (Is
64.6). Nós somos como o imundo.
Em sétimo lugar, a lepra
mata.
A lepra era uma doença que ia deformando e destruindo as pessoas aos
poucos. Elas iam perdendo os membros do corpo, ficando chagadas, malcheirosas e
acabavam morrendo na total solidão. Um leproso era como um morto-vivo.
O pecado mata. O salário do
pecado é a morte (Rm 6.23). O pecado é o pior de todos os males. Ele é pior que
a lepra. A lepra só atinge alguns, o pecado atingiu a todos; a lepra só destrói
o corpo, o pecado destrói o corpo e a alma; a lepra não pode separar o homem de
Deus, mas o pecado o separa de Deus no tempo e na eternidade.
Um grande desejo
O leproso demonstra quatro
atitudes:
Em primeiro lugar, o
leproso demonstrou grande determinação
(1.40). Ele venceu o medo, o autodesprezo,
os complexos e o repúdio das pessoas. Ele venceu os embargos da lei e saiu do
leprosário, da caverna da morte. Ele venceu a revolta, a dor, a mágoa, a
solidão, a frustração e a desesperança. Adolf Pohl faz o seguinte comentário:
Do versículo 45 entende-se que o miserável leproso forçou a
passagem até Jesus no meio de um povoado. Ele simplesmente rompeu a zona de
proteção que os sadios se cercaram. Quando ele surgiu, para horror dos
circundantes, num piscar de olhos os lugares ficaram vazios. Só Jesus não
fugiu. Jesus o deixou aproximar-se. Até aqui se falou que Jesus “veio” (v. 7,9,14,21,24,29,35,38); agora alguém
vem a Ele (v. 10,45),
demonstrando que entendeu a vinda dele.201

O leproso aproximou-se de Jesus e levou sua
causa perdida a Ele. Ele se aproximou tanto de Jesus a ponto do Senhor poder
tocá-lo. Isso é digno de nota porque a lei ordenava: “[…]habitará só; a sua
habitação será fora do arraial” (Lv 13.46). Esse leproso não se escondeu, mas
correu na direção de Jesus. Não corra de Deus, corra para Ele. Não fuja de
Jesus, prostre-se aos seus pés. Ele convida:

“Vinde a mim, todos os que
estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28).
Ele furou o bloqueio,
transcendeu, fez o que não era comum fazer. Ele contrariou os clichês sociais e
quebrou paradigmas. Dispôs-se a enfrentar o desprezo, a gritaria ou mesmo as
pedradas da multidão.
Ele rompeu com a decretação do
fracasso imposto à sua vida. Ele estava fadado à morte, ao abandono, ao
opróbrio, à caverna, ao leprosário. Contudo, ele se levantou e foi ao Salvador.
Ele esperou contra a esperança e não desanimou.
Em segundo lugar, o leproso
demonstrou profunda humildade
(1.40). Ele se ajoelhou (1.40), prostrou-se
com o rosto em terra (Lc 5.12) e adorou o Senhor (Mt 8.2). Ele reconheceu a majestade
e o poder de Jesus e o chamou de Senhor. Ele demonstrou que tinha necessidade
não apenas de cura, mas do próprio Senhor. Adorar ao Senhor é maravilhar-se com
quem Ele é mais do que com o que Ele faz. Adoramos a Deus pelas suas virtudes e
damos graças pelos seus feitos.
Em terceiro lugar, o
leproso demonstrou genuína fé
(1.40). Ele se aproximou de Jesus não com
dúvidas, mas cheio de convicção. Ele sabia que Jesus podia todas as coisas. Ele
sabia que para Jesus não havia impossíveis. Ele creu e confessou: “Se quiseres,
podes purificar-me” (1.40). A fé vê o invisível, toca o intangível e torna
possível o impossível. Pela fé pisamos o terreno dos milagres. Pela fé vivemos
sobrenaturalmente. Pela fé podemos ver a glória de Deus.
Corrie Ten Boon, passando pelas
agruras indescritíveis de um campo de concentração nazista, dizia: “Não há
abismo tão profundo que a graça de Deus não seja mais profunda”. O limite do
homem não esgota as possibilidades de Deus. O deserto, onde Ismael desfalecia
na ante-sala da morte, tornou-se a porta da sua oportunidade. Deus transforma o
vale da ameaça em porta da esperança.
Em quarto lugar, o leproso
demonstrou plena submissão
(1.40). O leproso não exige nada, mas suplica
com fervor. Ele não decreta, roga. Ele não reivindica direitos, mas clama por
misericórdia. Ele não impõe seu querer, mas demonstrou plena submissão à
vontade soberana de Jesus.
O próprio Jesus praticou esse
princípio no Getsêmani. A vontade de Deus é sempre boa, perfeita e agradável. É
a vontade dele que deve ser feita na terra e não a nossa no céu.
Um grande milagre
Quatro atitudes de Jesus são
aqui destacadas nesse milagre:
Em primeiro lugar, uma
compaixão profunda
(1.41). Marcos nos leva até o coração de Jesus e revela
o que o levou a agir. “Jesus, profundamente compadecido, estendeu a mão,
tocou-o, e disse-lhe: Quero, fica limpo!” (1.41). Literalmente, a tradução
seria: “tocado em suas entranhas ou em seu íntimo” diz William Hendriksen.202
Jesus é a disposição poderosa
de Deus para ajudar. Em Jesus, Deus fez uma ponte entre Ele e os excluídos.203
Jesus sentiu compaixão pelo leproso em vez de pegar em pedras para o expulsar
da sua presença. Jesus sentiu profundo amor por esse pária da sociedade em vez
de sentir náuseas dele. Todos tinham medo dele e fugiam dele com náuseas, mas
Jesus compadeceu-se dele e o tocou.
O real valor de uma pessoa
está em seu interior e não em sua aparência. Embora o corpo de uma pessoa possa
estar deformado pela enfermidade, o seu valor é o mesmo diante de Deus. William
Hendriksen diz que Jesus não considerava ninguém indigno, quer leproso, ou
cego, surdo ou paralítico. Ele veio ao mundo para ajudar, curar e salvar.204
John Charles Ryle diz que as pessoas não estão perdidas porque elas são muito
más para serem salvas, mas estão perdidas porque não querem vir a Cristo para
serem salvas.205
Mesmo que todos o rejeitem,
Jesus se compadece. Ele sabe o seu nome, seu problema, sua dor, suas angústias,
seus medos. Ele não o escorraça.
Em segundo lugar, um toque
generoso
(1.41). O toque de Jesus quebrou o sistema judaico em um lugar
decisivo, porque o puro não ficou impuro; entretanto, o puro purificou o
impuro.206
Segundo a lei, quem tocasse em um leproso ficava impuro, mas em vez de Jesus
ficar impuro ao tocar o leproso, foi o leproso quem ficou limpo. A imundícia do
leproso não pôde contaminar a Jesus, mas a virtude curadora de Jesus removeu
todo o mal do leproso.207
J. Vernon McGee diz que há um
lado psicológico tremendo nesse milagre, pois ninguém toca um leproso.208
Fazia muitos anos que ninguém tocava naquele leproso. Quando dava um passo para
a frente, os outros davam um passo para trás. Aquele homem não sabia mais o que
era um abraço, um toque no ombro, um aperto de mão.
Jesus poderia curá-lo sem o
tocar. Mas Jesus viu que aquele homem tinha não apenas uma enfermidade física,
mas também uma profunda carência emocional. Jesus tocou a lepra. Mostrou sua
autoridade sobre a lei e sobre a enfermidade. Jesus curou as suas emoções,
antes de curar a sua enfermidade. O toque de Jesus curou a sua alma, a sua
psiquê, a sua auto-estima, a sua imagem destruída.
Os Evangelhos falam do toque
curador das mãos de Cristo. Algumas vezes era o doente quem tocava em Jesus.
Isso não era nenhuma mágica. O poder de curar não se originava em seus dedos ou
vestimentas. Ele vinha direto da sua poderosa vontade e do seu coração
compassivo.209
Jesus pode tocar você também.
Basta um toque de Jesus e você ficará curado, liberto, purificado. Ele não se
afasta de nós por causa das nossas mazelas.
Em terceiro lugar, uma
palavra extraordinária
(1.41,42). Jesus atendeu prontamente ao clamor do
leproso: “Se quiseres, podes purificar-me”. Ele respondeu: “Quero, fica limpo!
No mesmo instante, desapareceu a lepra, e ficou limpo” (1.41,42). O toque e a
palavra trouxeram cura. William Hendriksen diz que a introdução condicional do
leproso: “Se quiseres”, é suplantada pela esplêndida prontidão do Mestre: “Eu
quero”. Aqui a vontade junta-se ao poder, e a subtração do “se”, com a adição
do “fica limpo”, transformam uma condição horrível de doença numa situação de
saúde estável.210
A cura foi completa e
instantânea. O milagre de Jesus foi público, imediato e completo. O sacerdote
poderia declará-lo limpo (1.44), mas só Jesus poderia torná-lo limpo.
Hoje, há muitos milagres sendo
divulgados que não resistem a uma meticulosa investigação. Mas quando Jesus
cura, a restauração plena é imediata e pública. Não há embuste nem propaganda
enganosa.
Em quarto lugar, um
testemunho necessário
(1.44). Jesus disse ao homem: “[…]vai, mostra-te ao
sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para servir
de testemunho ao povo” (1.44). O sacerdote era a autoridade religiosa e
sanitária que fornecia o atestado de saúde e pronunciava a purificação (Lv
14.1-32). Ele deveria dar o atestado de reintegração daquele homem na
sociedade. O sacerdote deveria atestar a legitimidade do milagre. O verdadeiro
milagre é verificável. Como já foi dito, o sacerdote poderia declará-lo limpo,
mas só Jesus poderia torná-lo limpo.211
Ele deveria ir ao sacerdote para
dar testemunho ao povo. Precisamos anunciar o que Deus fez por nós. O
testemunho desse milagre poderia gerar fé no coração dos líderes religiosos de
Israel. Isso era um testemunho para eles. Contudo, no caso de persistente
incredulidade, esse milagre seria um testemunho contra eles.
Uma grande advertência (Mc 1.44,45)
O propósito de Jesus ao
percorrer as cidades da Galiléia era pregar o evangelho (1.38, 39). Jesus
estava fugindo da busca infrene da multidão de Cafarnaum por milagres
(1.35-37). No entanto, agora, por compaixão, cura um homem coberto de lepra,
mas faz uma advertência. Vejamos três fatos dignos de observação:
Em primeiro lugar, uma
ordem expressa
. Jesus lhe disse: “Olha, não digas nada a ninguém…”
(1.44). Por que Jesus deu essa ordem? Por duas razões:
Primeiro,
porque sua campanha na Galiléia era evangelística e não uma cruzada de
milagres.
Jesus estava percorrendo as cidades da Galiléia com o propósito de
pregar o evangelho. Ele acabara de fugir da multidão de Cafarnaum que o buscava
para receber milagres. Jesus não quer ser conhecido apenas como um operador de
milagres. Ele veio para buscar o perdido, para remir os homens de seus pecados
e não apenas para curar suas enfermidades. Jesus, doutra feita, denunciou esse
interesse apenas temporal e terreno das pessoas que o buscavam: “Em verdade, em
verdade vos digo que me buscais, não porque vistes sinais, mas porque comestes
do pão e vos saciastes” (Jo 6.26). Jesus queria ser conhecido como um portador
de boas-novas e não como um realizador de milagres.212 O diabo sempre
quis distrair Jesus da sua missão, fazendo-o escolher o caminho da fama em vez
do caminho da cruz. Muitas vezes, o diabo escondeu-se atrás da multidão ávida
por milagres.213
Segundo,
porque não queria despertar precocemente a oposição dos líderes judeus.
Os líderes judeus tinham inveja de Jesus. O Senhor sabia que eles
estavam se levantando contra Ele e não queria apressar essa oposição. Jesus não
queria provocar uma crise prematura, diz William Hendriksen.214

Em segundo lugar, uma desobediência flagrante.
O homem curado não conteve sua alegria e entusiasmo. Diz o texto: “Mas, tendo
ele saído, entrou a 
propalar muitas cousas e a
divulgar a notícia…” (1.45). O verbo grego está no tempo presente,
evidenciando que o homem estava propalando e divulgando continuamente acerca da
sua cura.
215
Certamente ele tinha motivos para abrir a sua boca e falar das maravilhas que
Jesus havia feito nele e por ele. Contudo, isso não lhe dava o direito de
desobedecer a uma ordem expressa do Senhor que o libertara do cativeiro da
morte.

Jesus mandou aquele homem
ficar calado e ele falou. Hoje, Jesus nos manda falar e nós rebeldemente nos
calamos.216
A desobediência desse leproso purificado não é tão condenável quanto a nossa
desobediência atualmente. Somos ordenados a falar as boas-novas do evangelho a
todos e não falamos a ninguém.217
Em terceiro lugar, uma
conseqüência desastrosa
. A desobediência sempre produz resultados
negativos. Diz o evangelista Marcos: “Mas, tendo ele saído, entrou a propalar muitas
coisas e a divulgar a notícia, a ponto de não mais poder Jesus entrar
publicamente em qualquer cidade, mas permanecia fora, em lugares ermos; e de
toda parte vinham ter com ele” (1.45).
O entusiasmo daquele homem foi
um estorvo na campanha evangelística de Jesus. Era uma espécie de zelo sem
entendimento. A apresentação de Jesus nas sinagogas da província foi
interrompida. O Senhor não alimentou a curiosidade da multidão que o buscava
apenas para ver ou receber os seus milagres, por isso permaneceu fora das
cidades em lugares afastados.
Concluindo, podemos afirmar
que Jesus curou o leproso física, emocional, social e espiritualmente. Aquele
homem recobrou sua saúde e sua dignidade. Ele foi reintegrado à sua família, à
sinagoga e ao convívio social. Ele deixou de ser impuro e tornou-se aceito.
Jesus ainda hoje continua
curando os enfermos, limpando os impuros, restaurando a dignidade daqueles que
estão com a esperança morta. Venha hoje mesmo a Jesus. Coloque a sua causa aos
seus pés. Ela pode estar perdida para os homens, mas Jesus é o Senhor das
causas perdidas. Ele pode restaurar, sua vida, seu casamento, sua família e
fazer de você uma bênção.










Referências
190 Pohl, Adolf, Evangelho de Marcos, 1998:
p. 91.
191 Barton, Bruce B, et all. Life Application
Bible Commentary. Mark,
1994: p. 41.
192 Pohl, Adolf, Evangelho de Marcos, 1998:
p. 91.
193 Richards, Larry, Todos os Milagres da Bíblia,
2003: p. 212.
194 Gioia, Egidio, Notas e Comentários à Harmonia
dos Evangelhos,
1969: p. 96.
195 Ryle, John Charles, Mark, 1993: p.
15.
196 Ryle, John Charles, Mark, 1993: p.
15.
197 Richards, Larry, Todos os Milagres da Bíblia,
2003: p. 211.
198 Gioia, Egidio, Notas e Comentários à Harmonia
dos Evangelhos,
1969: p. 95.
199 Barclay, William, Marcos, 1974: p.
54,55.
200 Barclay, William, Marcos, 1974: p. 56.
201 Pohl, Adolf, Evangelho de Marcos, 1998: p. 92.
202 Hendriksen, William, Marcos, 2003: p. 105.
203 Pohl, Adolf, Evangelho de Marcos, 1998:
p. 93.
204 Hendrisekn, William, Marcos, 2003: p.
104.
205 Ryle, John Charles, Mark, 1993: p.
16.
206 Pohl, Adolf, Evangelho de Marcos, 1998:
p. 93.
207 Trenchard, Ernesto, Una Exposición del evangelio según Marcos, 1971: p. 32.
208 McGee, J. Vernon, Mark, 1991: p. 29.
209 Hendriksen, William, Marcos, 2003: p.
106.
210 Hendriksen, William, Marcos, 2003: p.
107.
211 Barton, Bruce B, et all. Life Application
Bible Commentary. Mark,
1994: p. 41.
212 Hendriksen, William, Marcos, 2003: p. 108.
213 Pohl, Adolf, Evangelho de Marcos, 1998:
p. 94.
214 Hendriksen, William, Marcos, 2003: p.
108.

Fonte:
Marcos -O Evangelho dos milagres
Hernandes Dias Lopes
Ed. Hagnos

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